segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Quem matou o cinegrafista da Band?

O primeiro suspeito é a empresa, a Band, que autoriza seus profissionais a assumir riscos que nenhum jornalista deve assumir. Jornalista não é policial.

O segundo suspeito é o diretor de jornalismo da Band, que, provavelmente, não fez seguro de vida para a família do cinegrafista.

O terceiro suspeito é, de novo, o diretor de jornalismo da Band, que permite transformar jornalistas em protagonistas: jornalista não compete com policial nem com traficante pelo protagonismo de uma reportagem.

Além do mais, para o espectador, que diferença faz se as imagens de um tiroteio com traficantes são do cinegrafista da Band ou da própria polícia ?

E mais: por que novas imagens de tiroteio com traficantes ?
Que novidade têm ? Que informação adicional dá ao espectador ?
Qual a diferença entre o tiroteio de ontem e o tiroteio de hoje?

Por que os cinegrafistas só filmam da perspectiva da polícia para os traficantes e, não, dos traficantes para a Polícia ?
Porque o jornalismo brasileiro não sobe o morro. Só entra na favela com a cobertura da Polícia. O que se passa lá dentro – para o bem ou para mal – não interessa.

O quarto suspeito é o policial que autorizou três equipes de televisão a acompanhar um tiroteio com traficantes.

O quinto suspeito é o Comandante da PM que permitiu que um policial admitisse que três equipes de televisão acompanhassem um tiroteio com traficantes.

O sexto suspeito é o Secretário de Segurança do Rio, que permite que uma ação policial se transforme numa reportagem espetaculosa.

Para o Bom (?) Dia Brasil, porém, num mau passo do Chico Pinheiro, a morte do cinegrafista da Band é uma restrição à liberdade de imprensa.

O tom da cobertura do Bom (?) Dia Brasil foi o de incriminar a política de segurança do Rio.

Como se sabe, a política de segurança do Rio é exemplar.
Combate o tráfico como nenhuma outra do Brasil – como se sabe, São Paulo consome mais carro, geladeira e viagens a Disney que o Rio, mas, cocaína, isso o Rio consome mais.
O projeto pioneiro das UPPs é um sucesso.

Mas, a política de segurança do Rio tem um grave defeito para o jornalismo dirigido pelo Ali Kamel, esse baluarte da liberdade de imprensa para divulgar atentados com bolinhas.
A segurança do Rio não é a do Governo Carlos Lacerda.

Nos bons tempos do Lacerda, o Secretário de Segurança Ardovino Barbosa mandava bater em jornalistas. Como os do jornal A Noite, na Cinelândia, em 1961, na crise da Legalidade.
 
(O ansioso blogueiro era foca da Noite e testemunhou a “liberdade de imprensa” dos lacerdistas.)

Por Paulo Henrique Amorim

Nenhum comentário:

Postar um comentário