segunda-feira, 14 de março de 2011

Desigualdade na escassez



Além de faltarem médicos, eles estão mal distribuídos pelo Brasil. 
*Adib Jatene é médico e ex-ministro da Saúde nos governos Collor


Dados do Conselho Federal de Medicina mostram que possuímos no País  340 mil médicos, o que para uma população de 190 milhões representa > 1,78 médicos para cada mil habitantes, número insuficiente quando  comparado com os 2,6 nos Estados Unidos, 3 na Argentina, 3,2 na Europa Ocidental, 3,8 em Portugal e 6,6 por mil habitantes em Cuba.

A necessidade de apenas um por mil habitantes é anterior aos anos 60,  quando dois terços da população viviam no campo.A conclusão é que  faltam médicos, deixando largas parcelas da população de baixa renda  com acesso limitado a esse  profissional.

Essa deficiência é agravada pela distribuição dos médicos no território nacional. Mais da metade encontra-se nas capitais, enquanto nessas cidades vive apenas 20% da  população.

Isso pode levar à conclusão de que, nas capitais, o número de médicos é suficiente. Quando se verifica que Vitória possui um médico para 127 habitantes (7,8/mil), Recife tem um médico para 213 habitantes (4,7/mil), Porto  Alegre um médico para 180 habitantes (5,5/mil), São Paulo um médico para 312 habitantes (3,2/mil), a conclusão de que as capitais estão bem atendidas parece correta.

Desde 1995, o País implanta o programa de Saúde da Família, que já recrutou mais de 250 mil agentes comunitários e compôs cerca de 30 mil  equipes de Saúde da Família, existindo em 93% dos municípios brasileiros, cobrindo mais de 85 milhões de habitantes. 

É preciso que os quase 16 mil médicos graduados por ano sejam
preparados para atender a população sem necessidade de usar a alta tecnologia, reservada aos casos mais complexos e, esses médicos, incorporados no seio da população.

É preciso inovar e nesse campo significa propor medidas para corrigir, em prazo relativamente curto, o problema da distribuição dos médicos.

Como todos os estados têm faculdades de medicina, alguns até com excesso de vagas, talvez fosse o momento de se criarem estágios de um ou dois anos no estado no qual se graduaram, prestando serviço no programa de Saúde da Família, como pré-requisito para residência médica.

Dessa forma, os que terminarem o curso médico, em vez de se prepararem para prestar concurso para residência, se preparem para atender às situações mais frequentes que afetam a população.

Isso significaria, em dois anos, poder criar mais de 30 mil equipes de Saúde da Família, cobrindo o déficit de acesso da população.

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